MUITO ALÉM

Muito além das margens do rio,
Cidade sóbria e progressista,
Interior que lembro e sorrio,
Que marca, embora a vida insista.

A paz das ruas contagia a alma,
Fronteiriça fluminense e mineira,
Em um dia muda a vida inteira,
Dia dos pais do amor que acalma.

Momentos breves, um tanto mineiros...
Conversa tranquila, mas intensa,
O coração sente e a cabeça pensa...
O oráculo se escrito, eliminaria tinteiros.

Volto ao Rio me sentindo privilegiado,
Com a solidão do cuidado vigiado,
Dei um “até logo” a um amor profundo,
Além Paraíba faz parte do meu mundo.

EXPRESSÕES DO AMOR

Passamos pela vida sem saber,
Como expressar e como sentir,
Sentimento que nunca vai caber,
Impossível ignorar ou mentir.

São emoções intensas e internas,
Que transbordam em lágrimas e sorrisos,
Sepultando de vez os Narcisos,
Emoções maternas e paternas...

Há também o amor do casal,
Que tem a libido como basal,
E sendo verdadeiro por formação,
Dispensa porquês e declamação.

Mas há imagens que (talvez) inebriem,
Muito melhor que palavra escrita,
Tornando a semântica restrita,

Inundando meu ser de emoção,
Além da capacidade do coração,

Toda vez que meus filhos sorriem...

O MEU MELHOR

Passo pela vida dedicando esforço,
Tentando melhorar honestamente,
Superando defeitos no presente,
Traços herdados como reforço.

Analiso observando diversos fatos,
Que talvez mereçam a modificação,
Que desafiam a mestria da superação,
E subsistem na memória como relatos.

Mas o resultado é frágil e incompleto,
E a competência é questionada,
Quando a mente está inconformada,
E o ser almeja sentir-se repleto.

Resta o conforto na busca do maior,
Conviver e aprender o amor,
Na companhia sem pedir favor,
Na presunção de tentar o melhor.

SUSPIRO

Suspiro doce de encantamento,
Tão doce que virou guloseima,

Trazendo sorriso se a vida teima,

Suspiro contido no esquecimento.

Suspiro sábio da recordação,

Tão sábio que trouxe aprendizado,

Para o diagnóstico até ajuizado,

Suspiro baixo... em tom de meditação.

Suspiro inconformado no lamento,

Tão inconformado em certa ocasião,

Escondendo a ignorância do ancião,

Suspiro que antevia aquele momento...

Suspiro divino o do nascimento,

Tão divino pelo presente que concedeu,

De uma jornada que você concebeu...

Suspiro derradeiro no passamento.

MEDITAÇÃO PLATÔNICA

Sonhei em te ver ali deitada,

Na relva macia, com olhos cerrados...

Esquecendo tão dura empreitada,

Sentido amores certos ou censurados.

Seu rosto terno estava relaxado e calmo...

Dos seus lábios escapava sutil sorriso,

Observava tudo à distância de um palmo,

A beleza de invejar Narciso.

O seu corpo iluminado pelo sol,

Capturava minha alma com anzol...

Seu rosto enrubescia lindo,

Mas o desejo eu estava engolindo...

Os minutos findaram e a cena cessou,

Imaginação esotérica ali se encerrou,

Os seus olhos marejados sorriram...

Mas foram os meus que abriram...

MANHÃS DE QUINTA

De fato, o acaso não existe,
E o destino nos afronta e insiste,
Quando irmãos se reúnem sem clamor,
E trabalham simplesmente por amor.

Somos diferentes, de natureza seletiva,
Mas no Templo praticamos magia...
O indivíduo de repente se contagia,
E a energia torna-se única e coletiva.

Trabalho único e meritocrático,
Envergonha o profano burocrático,
Quando nós, meros fios condutores,
Usufruímos de curas multicores.

Família de convivência semanal,
Nas quintas infalíveis, horário matinal...
Helga de Mesner, dirigente afetuosa,
Colhe os frutos da dedicação amorosa.

E o aprendizado se faz presente...
Superar vaidades: necessidade premente...
E quando a Rosa Vermelha lhe convocar,
Simplesmente ame sem evocar.

AMOR DE MIL FACES

De quantas maneiras ele se apresenta?
Quando você menos espera ele surge,
Quando levantar a autoestima, urge...
Pois a vida bate, e quase lhe aposenta.

E o apoio incondicional aparece,
Muitas vezes de quem sofre...
Mas que não guarda o amor no cofre,
E você se pergunta, se merece...

Amor verdadeiro de amiga querida,
E a minha pessoa já tão preterida...
Entende que o jogo ainda pode virar,
E que o sonho é mais do que aspirar.

Não sei quantas faces ainda verei,
Aonde quiser, se precisar, lá estarei,
É o mínimo a fazer para retribuir,
Ajudar-lhe sempre, sem me imiscuir.

YARA

Era apenas mais uma colega,
Dos tempos da escola fundamental,
Quando a vida era experimental,
E não o exercício de quem relega...

Habitou meus sonhos adolescentes,
E os hormônios pulsavam em profusão,
Não havia nenhuma confusão...
Eu não julgava se eram indecentes...

Uma surpresa estava reservada,
Na Universidade, em matéria eletiva...
A ocasião nem sempre seletiva,
Manteve a memória preservada.

E hoje se grisalhos são meus cabelos,
Parece que o coração ainda funciona,
Na afinidade que ninguém menciona,
Regada ao vinho, falando pelos cotovelos...

A joalheria mistura obrigação e prazer,
Mas as joias não conseguem trazer,
A explicação do mistério insistente,
Dos encontros em período intermitente.

MAIS UM FIM DE ANO

Cheguei até aqui apesar de tudo,
Engolindo orgulho e palavra,
Sem saber qual a melhor lavra,
Inibindo o prolixo e ficando mudo.

Cheguei até aqui no fim do ano,
Sorrindo discreto e vendo esperança,
Em planos alheios, até da criança...
Sonhando fantasias, qual um insano.

Cheguei até aqui mais uma vez,
Perdendo a empáfia da sabedoria,
Adiando sempre a aposentadoria,
Sem a certeza, mas amando o talvez.

Cheguei até aqui e não seria capaz...
Sem os amores que não puderam ficar,
Que viram meu melhor, sem me modificar,
Estou tranquilo, mas não estou em paz.

JUNE

Atenciosa, atenta e discreta,
Era a rotineira intervenção,
Em ambiente cuja intenção,
Seria uma reciclagem concreta.

Ficou clara a vasta experiência,
Conquistada com lágrimas e esforço.
Alimentando a consciência,
Que a formação é apenas reforço...

Para alguém que do zero começou,
E com obstáculos, nem se interessou,
E “comme il faut” conseguir,
Escolheu apenas prosseguir.

Com desprendimento se mostrou,
Urdindo uma corrente especial,
Seriam sete elos, ela demonstrou...
Embora o seu fosse o essencial.