Era um homem de coragem Nho Mateus,
Temido por todos pela rudeza e seriedade.
Nada o desafiava neste mundo de Deus,
Mas os mortos, eram uma temeridade...
Desde tenra infância cultivou a histeria,
Que ficou completamente incontrolável,
Após a perda da companheira dos mil encantos,
Nha Maria, a mulher do sorriso afável,
Assombra Mateus em cada móvel e pelos cantos,
Que ainda transpiram com sua energia.
Todos os dias as luzes, na imponente morada,
Só se apagam aos primeiros raios de sol,
E Mateus que à cama se esconde sob o lençol,
Alumia casa, abrindo as janelas na alvorada.
Triste dia o da perda do Nho Bastião,
Compadre honrado, quase um irmão,
Protagonizou, naquelas bandas, causo inusitado,
Nho Mateus, naquela noite, seria visitado...
Antes de dormir, entrara na cozinha,
Assobiando alto para o medo espantar,
Velho hábito de fazer uma boquinha,
E tomar apenas um trago, para esquentar.
De repente sua espinha enrijeceu e arrepiou,
Sua garganta ficara seca e a voz emudecia,
Em seu pescoço, duas mãos gélidas ele sentia,
No seu ouvido era soprada uma voz de trovão:
Cumpadi, vim ti buscá! Vamos jogar gamão!
A mudez se foi e um urro horrendo reverberou!
Esquecendo estar de ceroulas e descalço,
Nho Mateus correu para a praça,
E nem sequer ficou sem graça...
Com sua bexiga sem controle neste percalço.
Sem perder a postura de Coroné respeitado,
Inquiriu o mendigo da praça, com dedo em riste:
Passou por aqui agora, Nho Bastião, o finado?
Coroné... o senhor a esta hora, fazendo xiste?
Nho Mateus, sem perder a pose, o causo relatava,
E para um café em sua casa, a todos convidava.
Já na cozinha, o mendigo resolveu falar o que vira:
Não era alma penada, monstro ou curupira...
Mas com tênis e calça jeans à mostra, era alguém,
Debaixo de um lençol branco, impecavelmente,
Era o que bastava para provar indubitavelmente!
Nho Bastião se despedira, antes de ir para o além.
Nho Mateus explicou que o amigo sempre desejara,
Utilizar calça jeans e tênis, mas nunca abriu mão,
Das tradicionais calças e botas na Fazenda Marajoara,
Como convinha a um Coroné de suas posses e posição.
Mas e o lençol branco? Como se explicaria?
Cisma do finado, Nho Bastião sabia...
Cumadi Nha Rita, a viúva, confirmaria...
Roupa de cama branca era uma mania.
Quando de repente, o mendigo alerta...
Coroné... a porta do seu freezer tá aberta...
Ah isto eu explico... Nho Bastião, no cemitério,
Sentiu saudades, da gaveta do necrotério!
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